Arqueólogos falam sobre as descobertas em Óbidos

Inserido na programação do Mercado Medieval de Óbidos 2014, realizou-se, no passado dia 12 de julho, o evento Conversas de Arqueologia Medieval, com… Marco Liberato e Helena Santos, dedicado ao tema “Entre o Islão e a Cristandade – A cultura material na Estremadura Medieval”.

Foto: Comércio & Indústria
Com estas Conversas, pretende-se divulgar junto da comunidade o património arqueológico que o Serviço de Arqueologia do Município de Óbidos tem vindo a identificar e recolher em trabalhos arqueológicos e que constitui uma parte integrante da nossa identidade e memória coletiva. O evento foi organizado pelo Serviço de Arqueologia, com apoio da Óbidos Criativa E.M..

Durante a palestra, os arqueólogos Marco Liberato e Helena Santos falaram sobre as continuidades e descontinuidades culturais na Estremadura Medieval. Após a expansão islâmica dos séculos VII e VIII, formaram-se vários universos culturais, nomeadamente, na Península Ibérica. Os materiais arqueológicos indicam que os centros urbanos aceitaram mais facilmente as inovações, enquanto as áreas rurais mantiveram tendencialmente as suas tradições.


Afastada das principais cidades, a Região Oeste corresponderia, então, a uma área rural com pouca população. No séc. X, as descrições das revoltas muladis (convertidos ao Islão) referem precisamente as Serras entre Santarém e Coimbra como territórios de refúgio. Desde meados do séc. XI, a região localizada entre o Rio Mondego e o Rio Tejo transforma-se numa zona de constante conflito. Daí, talvez, a ocupação do Outeiro de Óbidos com algum tipo de fortificação que possibilitasse a defesa do território.

Concluída a expansão cristã – prosseguiram os arqueólogos – verificam-se intercâmbios culturais no decurso dos séculos XII a XIV. As formas, os tipos e as decorações das cerâmicas caracteristicamente islâmicas coexistem com as cristãs trazidas pelas populações do Norte de Portugal. Importam-se, inclusive, faianças valencianas decoradas com símbolos islâmicos.

Em relação à alimentação, e apesar do islamismo ditar a proibição do consumo de porco e de álcool, os restos faunísticos e as cerâmicas sugerem um sincretismo entre os costumes locais e os costumes setentrionais. No caso de Óbidos, os hábitos alimentares islâmicos deveriam ser amplamente minoritários ou mesmo inexistentes. Relativamente à moeda, destacam-se os espécimes cunhados em metal nobre como manifestação de domínio cristão e de adaptação ao universo multicultural (por exemplo, o morabitino ou maravedi de D. Sancho I).

No final da palestra, abriu-se um tempo para a participação do público, após o qual Dina Matias, arqueóloga do Serviço de Arqueologia, realizou uma visita guiada à mostra de materiais medievais recolhidos na vila de Óbidos. Para além de cerâmicas islâmicas ou de tradição islâmica, a arqueóloga explicou o significado do aparecimento de cerâmicas tipicamente cristãs e de restos faunísticos, bem como de um fragmento de jarro ou garrafa vidrada e de um real de prata.

A próxima palestra está agendada para o dia 2 de agosto, pelas 16 horas, na capela de São Martinho, em Óbidos. Sónia Codinha, investigadora do Centro de Ciências Forenses, falará sobre “Rituais funerários na Óbidos Medieval”.

Fonte: Paulo Araujo | Comércio & Indústria
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