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Foto: OEAI |
Na última edição da revista PLOS One, um artigo científico conclui que a dieta destes homens era maioritariamente à base de vegetais e com a ingestão de poucas proteínas de origem animal. De uma forma geral, a sua dieta era semelhante à dos outros cidadãos de Éfeso, mas havia uma diferença curiosa.
Os ossos dos gladiadores apresentam níveis mais altos do elemento químico estrôncio do que o resto dos habitantes da cidade. Para os autores desta investigação, esta característica poderá dever-se a um cocktail de cinzas de plantas que os lutadores tomavam depois das lutas.
Os gladiadores eram escravos, criminosos ou prisioneiros obrigados a combater em duelos públicos financiados pela classe alta romana para entreter o povo. Durante séculos, estes homens eram alimentados e exercitados em escolas de gladiadores para lutarem em público uns contra outros ou contra animais selvagens. A morte era frequente. O imaginário desta realidade desumana é retratado filmes como Gladiador ou na história várias vezes narrada de Spartacus, um escravo trácio que se rebelou contra os romanos e formou o seu próprio exército.
“Há milhares de artefactos e imagens dos gladiadores, o que dá a entender que estes jogos eram cruciais para os romanos. Mas o cemitério é uma das pouquíssimas possibilidades de estudar os próprios gladiadores”, sublinha Fabian Kanz.
O investigador já tinha analisado as fracturas nos ossos dos esqueletos daqueles gladiadores — eram homens entre os 20 e os 30 anos. Os cortes que encontrou nos ossos revelaram que, apesar de usarem equipamento de protecção, os gladiadores sofriam golpes mortais. Mas encontrou também fracturas que foram tratadas e amputações, indicando que eram alvo de cuidados médicos.
A alimentação é outro aspecto daquele quotidiano. “Os textos antigos mencionam uma dieta especial para os gladiadores, por isso a questão era se essa dieta deixou vestígios [específicos] nos seus ossos”, adianta ainda o cientista.
Uma das conclusões importantes do estudo agora publicado foi precisamente a análise do rácio dos isótopos de azoto, uma vez que uma das formas deste elemento químico indica a existência de proteínas de animais na dieta. “Não encontrámos nos ossos dos gladiadores diferenças significativas de [uma das formas de] azoto em relação aos ossos da população normal de Éfeso”, explica-nos, por seu lado, Sandra Lösch, outra autora do artigo, da Universidade de Berna, na Suíça.
A alimentação da maior parte da população seria constituída maioritariamente por cereais e outros vegetais. Os gladiadores tinham até a alcunha difamatória de “comedores de cevada”. “Claro que eles comeriam peixe e carne, mas pensamos que não seria o componente principal da sua dieta”, defende Fabian Kanz. “Nas classes mais altas, o consumo de carnes caras terá sido maior.”
Quanto às cinzas, que poderá explicar a quantidade mais elevada de estrôncio nos ossos dos gladiadores em relação às outras pessoas, elas poderão ter sido oriundas da queima da madeira de “cedros, pinheiros e carvalhos”, refere o artigo.
Fabian Kanz deixa-nos uma possível receita para esse cocktail: “Pensamos que a cinza poderia ser dissolvida numa mistura de vinagre e água — uma bebida romana normal — e talvez fosse adicionado mel para adoçar.”
Fonte: Público [texto de Nicolau Ferreira]»»