A arqueologia no estrangeiro, uma aposta científica e diplomática

Os que ainda vêem os arqueólogos como antiquários que recolhem velhos objectos vão ficar surpreendidos ! Os grandes estaleiros de escavações arqueológicas empreendidos por organismos franceses juntamente com os de países anfitriões são verdadeiros laboratórios que atraem cientistas do mundo inteiro e de todas as áreas. 

Na Etiópia, o sítio medieval de Lalibela apresenta um outro desafio: é, com efeito, constituído por igrejas esculpidas na rocha, sendo algumas delas ainda hoje frequentadas! Este estaleiro, dirigido por dois cientistas do CNRS que exercem funções no Centro francês dos Estudos etíopes em Adis Abeba, congrega parceiros etíopes, muito implicados no projecto e numerosas instituições francesas como o Instituto Nacional de Investigação em Arqueologia Preventiva (INRAP), financiado pela Agência Nacional de Investigação (ANR). Uma exposição permanente, destinada aos habitantes e turistas, está patente no World Heritage Center na cidade de Lalibela onde os guias são formados pelos cientistas.

Na Albânia, em Apollonia, antiga cidade greco-romana, o Instituto Arqueológico de Tirana, as Escolas francesas de Atenas e de Roma, a Universidade Lyon 2 e o CNRS, zelam pela restauração dos mosaicos de uma casa romana e valorizam a ágora.

Estudantes de todo o mundo adquirem formação nos estaleiros desta escola. Segundo Jean-Michel Kasbarian, chefe do Departamento de Ciências Humanas e Arqueológicas no Ministério dosNegócios Estrangeiros e Europeus esta é uma das escavações que servem de exemplo : «Uma boa missão é aquela que privilegia a pluridisciplinaridade, a inovação, a cooperação universitária, a que envolve o maior número de parceiros, a que tem um impacto importante nas ciências e nas técnicas.

A arqueologia é uma das ciências mais pluridisciplinares e os estaleiros de escavações congregam geneticistas que estudam o ADN antigo, biólogos, cartógrafos, economistas, historiadores, geofísicos, investigadores em ciências da vida». Assim, a Missão quaternária e pré-histórica na Indonésia atrai muitos antropólogos e historiadores da pré-história e também muitos geólogos e zoólogos.

A equipa internacional é composta por numerosos jovens investigadores e doutorandos bem como por cientistas indonésios formados em França graças à existência de uma estreita cooperação, de longa data, entre o Centro arqueológico indonésio e o Museu Nacional de História Natural « Muséum national d’histoire naturelle ».

A França vê nestas operações uma oportunidade para exportar o seu « savoir-faire ». Tal como a matemática, a arqueologia é um dos florões da investigação francesa e muitos países solicitam a sua colaboração. Este ano, como em 2011, o Ministério dos Negócios Estrangeiros continua a apoiar as missões arqueológicas francesas em todo o mundo.

A comissão consultiva das investigações arqueológicas no exterior, composta por arqueólogos e especialistas do Institut de France, do CNRS, por grandes instituições culturais ou de investigação francesas (Louvre, Muséum national d’histoire naturelle, universidades) e estrangeiras (Instituto alemão de arqueologia, Museu nacional do Mali), está encarregada de seleccionar os melhores projectos. Para a campanha de 2012, foram aprovadas 164 missões, 11 das quais são novos projectos em Oman, Peru, México, Azerbaijão, Ucrânia, Bulgária, Marrocos, Tunísia e três na Turquia.

As Missões arqueológicas são também um meio para a França desenvolver as suas relações de cooperação com outros Estados. Assim, no Iraque, foi recentemente reaberto o sítio romano de Peramagron, antiga encruzilhada das caravanas, em território do Curdistão, graças a uma parceria entre o CNRS e o Departamento das antiguidades de Souleymanieh e ao consentimento do State Board for Antiquities and Heritage de Bagdad. Esta Missão permite relançar importantes investigações, bases fundadoras para a arqueologia desta região, que tinham sido interrompidas há cerca de vinte anos.

A administração e a população local estão implicadas nestas operações que deverão ter também um impacto no desenvolvimento regional através da exploração dos sítios, da criação de infra-estruturas, da partilha dos conhecimentos da região e da sua cultura «O sítio é observado no seu contexto, sublinha Jean-Michel Kasbarian. «Trata-se de estudar um conjunto, um sistema, partindo-se sempre de uma questão científica sobre qual se realiza uma pesquisa cultural, histórica, que permite conhecer melhor o passado e o presente».

 A arqueologia é uma paixão: estes locais fascinantes unem apaixonados de todas as nacionalidades!

Fonte: Raia Diplomática
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