FOTO: S. EMMA (Universidade de Stanford)
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Particularmente interessado no período bizantino, Justin Leidwanger já realizou milhares de mergulhos com o objetivo de explorar e de estudar naufrágios ocorridos durante a antiguidade na região do Mediterrâneo Oriental. Segundo este investigador, a Arqueologia Subaquática “fornece uma perspetiva privilegiada para o estudo da história antiga. Há muito trabalho teórico sobre a economia marítima do Império Romano, mas eu estou particularmente interessado nos detalhes íntimos das viagens marítimas, e através dos achados arqueológicos pode-se esclarecer alguns aspetos da história do consumo e das trocas comerciais realizadas ao longo do Mediterrâneo durante a antiguidade", diz Justin Leidwanger.
O objetivo da Leidwanger é criar modelos teóricos sobre as economias deste período a partir dos dados concretos recolhidos no seu trabalho de campo, trabalho esse todo ele realizado debaixo da água.
"O Império Romano foi uma estrutura muito complexa que assentou num processo baseado no movimento de pessoas e bens através da paisagem. Eu estou interessado em saber como essas estruturas e redes sociais mudaram ao longo da vigência do Império Romano", disse Leidwanger.
Este investigador britânico está atualmente envolvido em dois projetos, o Projeto “Marzamemi Maritime Heritage Project ” , na Sicília e o Projeto “Burgaz Harbors Project ”, na Turquia.
"A Sicília foi um ponto muito importante de comunicação e comércio entre o leste e o oeste do Mediterrâneo romano. Nos naufrágios que estamos a investigar nesta área, nós estamos a encontrar evidências relacionadas com as mudanças dos padrões de comércio quando a capital se mudou de Roma para Constantinopla, séc. IV", observa Leidwanger.
Na Turquia, os arqueólogos escavam neste momento quatro portos atualmente submersos para poderem obter uma imagem do que eram as estruturas portuárias nessa altura. No século IV, durante o período clássico tardio, Burgaz tornou-se um centro económico regional e internacional para a exportação de produtos agrícolas. "Nós estamos a detetar evidências de como essas estruturas portuárias foram mudado ao longo do tempo", diz Leidwanger.
Descobrindo a história no “mare nostrum”
Justin Leidwanger - Foto: E. Geene |
"O Mar Mediterrâneo tem sido descrito como uma espécie de "continente invertido”, uma zona com uma cultura específica e base de um conjunto de relações humanas que têm o mar como pano de fundo. Em vez de ser na terra, tudo se passa no mar. Esta conceção levou-me a focar a minha investigação em problemáticas relacionadas com a verdadeira importância deste mar", justifica Justin Leidwanger.
Em locais da Sicília ou da Turquia, onde ele regressa em cada verão com estudantes da universidade de Stanford, o arqueólogo escava portos e navios naufragados que muitas vezes contém artefactos bem preservados e que posteriormente analisa no laboratório. "A grande vantagem em escavar naufrágios assenta no facto de que muitas vezes eu recolho vasos e recipientes de cerâmica intactos, ainda com um grande manancial de informação, uma vez que é possível determinar a sua capacidade, o que eles transportavam e como eram usados.
Alta tecnologia e trabalho de equipa
O trabalho de Leidwanger insere-se dentro de uma operação internacional. Nos seus dois projetos atuais que desenvolve na Sicília e na Turquia, Leidwanger conta com colaboradores do Canadá, Itália, Turquia e Israel. Estudantes da Universidade de Stanford também desempenham um papel fundamental nas viagens que permitem a realização do trabalho de campo. " Os nossos alunos adquirem uma grande experiência de campo em diferentes partes do mundo. Neste verão eu vou levar comigo para a Turquia e para Sicília um número significativo de alunos de diferentes graduações. É uma experiência vital para eles", disse Leidwanger.
A tecnologia desempenha um papel-chave no equipamento necessário para realizar arqueologia subaquática. Sonar e outras tecnologias de controlo remoto ajudam a encontrar e a contextualizar locais, enquanto que aplicações informáticas inovadoras permitem aos arqueólogos criarem mapas 3D do fundo do mar. Mas toda esta tecnologia é de custo muito elevado.
"É importante escolher as ferramentas certas para a ocasião certa, além ter que formular as questões e as hipóteses adequadas à investigação que se pretende fazer. Que bens, produtos, coisas estavam a ser movimentados nesta altura e porquê? Como é que se processou a mudança ao longo do tempo? Estas são as questões que me motivam", disse Leidwanger.
Marissa Ferrante, uma doutorada em arqueologia, viajou para a Sicília, integrando a equipa de Leidwanger no último verão. Segundo Ferrante, que atualmente está a criar um mapa topográfico tridimensional de um sítio situado no fundo do mar, a "escavação de locais subaquáticos e a recolha de dados no fundo do mar permitiu-me relacionar as discussões teóricas da sala de aula com práticas arqueológicas aplicadas no mundo real", disse.
Preservando o património cultural
Justin Leidwanger, rege uma cadeira sobre ética arqueológica na universidade onde leciona e confessa-se um apaixonado pelo processo da arqueologia sustentável. "A legislação, especialmente a concebida para a arqueologia subaquática, nem sempre está bem definida, nem sempre é objetiva e, portanto, a preservação e as boas práticas transformam-se, na minha perspetiva, em questões fundamentais. A soberania sobre os locais ou naufrágios e respetivo espólio nem sempre é muito claro, e há alguns oportunistas por aí", sublinha Leidwanger, que faz um esforço permanente para situar a sua investigação dentro de um diálogo mais amplo entre as práticas relacionadas com o património natural e cultural.
Na Sicília, por exemplo, ele está a participar numa iniciativa que pretende “implementar, baseado em recursos patrimoniais, um turismo ambientalmente sustentável que possa contribuir para o desenvolvimento económico." Para este professor, a arqueologia é mais do que o simples estudo dos artefactos e dos locais de escavação: "para mim, trata-se de estabelecer e manter a herança cultural, para que possamos entender e usufruir melhor do nosso passado".
Fonte: Universidade de Stanford