FOTO: MCTI |
“As feições serão mais robustas que aquelas com as quais estamos acostumados”, adianta o artista incumbido da reconstrução facial, o mato-grossense Cícero Moraes. “A primeira coisa que vimos foi que o nariz não era fino nem pequeno. Além disso, os lábios eram grandes. Isso se afasta do usual em imagens religiosas, que costumam ser de traços finos, muitas vezes andróginos, infantis.”
O rosto em tamanho real será impresso no Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI/MCTI), em Campinas (SP). Um estudo já foi gerado e, após alterações, a peça definitiva deve estar concluída nas próximas semanas. A entrega ao Museu da Universidade de Pádua está marcada para 13 de junho, dia do santo, e a exibição ao público está prevista para novembro.
“A impressão propriamente dita é relativamente rápida. Um busto assim leva um dia para ficar pronto”, destaca o pesquisador-chefe da Divisão de Tecnologias Tridimensionais (DT3D) do CTI, Jorge Vicente Lopes da Silva. “É como se você imprimisse centenas de folhas com as bordas coloridas.” As cores básicas, que se combinam, são vermelho, verde e azul (RGB, na sigla em inglês usada pelas gráficas em geral).
Modelagem
Cícero Moraes foi convidado para o projeto pelo grupo italiano de arqueologia Arc-Team, com o qual já colaborava e que recebeu a encomenda do museu. “O pessoal da Itália me mandou o crânio digitalizado. A imagem digital foi gerada a partir de fotos da réplica em bronze do crânio, produzida em 1981”, conta. “Aí, fui criando os músculos, fazendo a modelagem anatômica com o programa computacional Blender.”
Segundo o artista brasileiro, testes com pessoas vivas mostram que o índice de fidelidade ao original costuma variar de 70% a 92%, e as feitas por ele ficam geralmente na faixa mais alta. “O nariz, a forma geral do rosto e o tamanho dos lábios costumam ficar bem compatíveis com os do indivíduo. Já para a forma dos lábios, por exemplo, não se consegue precisão de 100%. Por isso, embora ‘reconstrução’ seja o termo geralmente usado, prefiro ‘aproximação’.”
A missão no campo da memória religiosa teve apoio do Centro de Estudos Antonianos, ligado à Basílica de Santo Antônio de Pádua, e a possível mudança na imagem foi recebida com tranquilidade, segundo relata Cícero Moraes. “O rosto que veio à tona é muito compatível com o de uma pessoa comum, um homem de 36 anos muito parecido com que alguém que poderia estar ao seu lado neste momento”, observa. “Os santos já são seres perfeitos em seu comportamento. Uma aparência mais comum é um fator que aumenta a proximidade, e isso é bom para a Igreja. Basta pensar na abertura promovida pelo papa Francisco, que faz questão de se mostrar simples.”
Evolução e história
Na exposição de novembro estarão retratadas, em suporte digital, mais quatro figuras históricas paduanas. Haverá, ainda, 16 rostos de hominídeos, três deles feitos a pedido do museu e os demais já expostos na mostra Faces da Evolução. Em 15 das 21 reconstruções faciais Cícero Moraes empregou o software livre InVesalius, desenvolvido pelo CTI Renato Archer, que usa tomografias como ponto de partida. “A intenção é criar protocolos científicos de reconstrução que possam ser reproduzidos por quem quiser”, destaca.
A parceria com o CTI Renato Archer começou há dois anos, quando Moraes adotou aquele programa. O trabalho conjunto envolveu a reconstrução de uma múmia do Museu de Washington (Estados Unidos), apresentada em congresso científico em Portugal. Outra das ações foi um treinamento no Blender, ministrado por ele, para a equipe de desenvolvedores do InVesalius.
“Do mesmo modo que podemos recuperar uma história, um personagem, podemos reconstruir o nariz ou a maxila de alguém que os perdeu por causa de um tumor”, ressalta Jorge Vicente Lopes da Silva. Cirurgias de alta complexidade são uma das aplicações que a unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) dá à tecnologia tridimensional.
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