“Tempest Stela” pode ajudar a reformular as cronologias do antigo Médio Oriente

Uma inscrição descoberta num bloco de pedra com cerca 3.500 anos de idade pode ser um dos mais antigos boletins meteorológicos do mundo, podendo fornecer novas evidências sobre a cronologia dos acontecimentos no antigo Médio Oriente.

Foto: Metropolitan Museum of Art
Uma nova tradução de uma inscrição com 40 linhas feita num bloco de calcite com 6 metros de altura, a chamada “Tempest Stela”,  descreve uma situação meteorológica incomum em que a chuva, a escuridão e "o céu estão numa tempestade sem cessar”.

Dois académicos da Universidade do Instituto Oriental de Chicago acreditam que os padrões climáticos incomuns descritos na laje foram o resultado da explosão do vulcão Thera, na atual  ilha de Santorini, no Mar Mediterrâneo. Porque as erupções vulcânicas podem ter um amplo impacto sobre o clima, a explosão do Thera provavelmente teria causado impactos significativos no Egito.

Dois académicos da Universidade do Instituto Oriental de Chicago acreditam que os padrões climáticos incomuns descritos na laje foram o resultado da explosão do vulcão Thera, na atual ilha de Santorini, no Mar Mediterrâneo A nova tradução sugere que o faraó egípcio Amósis governou num período mais próximo do momento em que se deu a provável erupção do vulcão Thera do que se pensava,  uma descoberta que pode mudar o entendimento que os especialistas têm da cronologia egípcia.

A “Tempest Stela” remonta ao reinado do faraó Amósis, o primeiro faraó da 18 ª Dinastia. O seu governo marcou o início do Novo Império, uma época em que o poder do Egito atingiu o seu auge na região . O bloco foi encontrado em pedaços em Tebas, onde Amósis governava.

A nova interpretação que se está a fazer da “Tempest Stela” situa o reinado de Amósis em cerca de 30 a 50 anos antes da cronologia que atualmente se utiliza. "Este dado é importante para os estudiosos do antigo Médio Oriente e leste do Mediterrâneo, porque a cronologia que os arqueólogos utilizam baseia-se nas listas de faraós egípcios, e esta nova informação pode ajustar essas datas", disse Nadine Moeller , professora assistente de arqueologia egípcia no Instituto Oriental.

Em 2006, testes de radiocarbono feitos a uma oliveira que estava enterrada sob resíduos vulcânicos colocaram a data da erupção do  Thera em 1621-1605 aC. Até agora, as evidências arqueológicas para  datar a erupção deste vulcão pareciam em desacordo com as datações obtidas por radiocarbono, explicou Felix Hoeflmayer do Instituto Oriental, que estudou as implicações cronológicos relacionados com a erupção. No entanto, se a data do reinado de Amósis é mais recente do que se pensava anteriormente, as dúvidas cronológicas "podem estar resolvidas” disse Hoeflmayer.

A datação revista do reinado de Amósis pode significar que as datas de outros acontecimentos  no antigo Próximo Oriente se encaixam mais logicamente, disse o estudioso. Por exemplo, realinha as datas de acontecimentos importantes como a queda do poder dos Cananeus e do colapso do Império Babilónico, disse David Schloen, professor associado de Línguas e Civilizações em culturas antigas do Médio Oriente.

"Esta nova informação proporcionará também uma melhor compreensão do papel do ambiente no desenvolvimento e na destruição de impérios no antigo Médio Oriente" "Esta nova informação proporcionará também uma melhor compreensão do papel do ambiente no desenvolvimento e na destruição de impérios no antigo Médio Oriente", disse o investigador. Por exemplo, a nova cronologia ajuda a explicar como Amósis subiu ao poder e suplantou os governantes cananeus do Egito, os hicsos.

A erupção do Thera e o tsunami que daí poderá ter resultado poderá ter destruído as portas dos hicsos e enfraquecido significativamente o seu poder marítimo.

Além disso, a interrupção do comércio e da agricultura causada pela erupção teria prejudicado o poder do Império Babilónico e poderia explicar por que os babilónios foram incapazes de se defender de uma invasão dos hititas, outra cultura antiga que floresceu no que é hoje a Turquia.

Alguns investigadores consideram que o texto da “Tempest Stela” pode de ser um documento metafórico que descreve o impacto da invasão dos hicsos. No entanto, a tradução de Ritner mostra que as palavras contidas neste texto referem-se de uma forma mais lógica a uma descrição de acontecimentos climáticos resultantes de perturbações causadas pela enorme explosão do vulcão Thera.

Robert Ritner disse que o texto relata que Amósis testemunhou o desastre. A descrição dos acontecimentos patentes no texto da estela são assustadores.

O texto descreve um "céu de constante tempestade", com "uma chuva ininterrupta " por um longo período de dias. As passagens também descrevem corpos que flutuam no Nilo como "esquifes de papiro".

É importante sublinhar que o texto refere-se a acontecimentos que afetaram tanto a região do delta como do sul do Nilo. "Esta foi claramente uma grande tempestade, muito diferente dos tipos de chuvas fortes que o Egito estava habituado a ter periodicamente", disse Ritner.

Marina Baldi, uma cientista especializada em climatologia e meteorologia do Instituto de Biometeorologia do Conselho Nacional de Pesquisa da Itália, analisou a informação sobre a estela, juntamente com os seus colegas, e comparou-o com os padrões climáticos conhecidos no Egito.

Um padrão de tempo predominante na região é um sistema chamado de "the Red Sea Trough", que traz ar quente e seco para a região da África Oriental.

Quando interrompido, esse sistema pode trazer um severo período de mau tempo, com precipitação intensa e enchentes, semelhante ao que é relatado na “Tempest Stela”. "A modificação na circulação atmosférica após a erupção poderia ter impulsionado uma mudança no regime de precipitação da região. Portanto, o episódio da tempestade relatado nesta estela poderia ser uma consequência dessas mudanças climáticas", explicou Baldi.

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