Amanita Muscaria cogumelo alucinogéno
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O uso de álcool e de drogas, nomeadamente as extraídas diretamente de algumas espécies de plantas e de cogumelos, como a papoula e os cogumelos alucinogénios, era um ato altamente regulado e andava de mãos dadas com o sistema de crenças e rituais funerários sagrados de muitas sociedades pré-industriais.
Elisa Guerra-Doce, docente da Universidade de Valladolid, Espanha, afirma que o seu uso era parte integrante das crenças pré-históricas e que estas substâncias foram usadas com intensa regularidade para ajudar na comunicação com o mundo espiritual.
A investigação de Elisa Guerra-Doce aparece publicada na “Springer Journal of Archaeological Method and Theory “ e a autora mostra neste seu trabalho que o consumo destas substâncias é tão antigo quanto a própria sociedade humana.
Nesta pesquisa foram examinados quatro tipos diferentes de documentos arqueológicos como restos de folhas, frutos ou sementes de plantas psicoativas, resíduos sugestivos de bebidas alcoólicas, alcalóides psicoativas encontradas em artefactos arqueológicos, restos de esqueletos de tempos pré-históricos e representações artísticas de espécies de plantas e cenas de consumo.
Segundo Elisa Guerra , todos estes vestígios de produtos de alteração sensorial foram encontrados em túmulos e lugares cerimoniais, o que a leva a acreditar que tais substâncias estão fortemente ligadas ao uso ritual. Eles terão sido consumidos com o objetivo de alterar o estado normal da consciência, ou até mesmo para alcançar um estado de transe.
Os detalhes dos rituais ainda não são claros, mas a hipótese é que as substâncias ou foram utilizados no decorrer dos ritos funerários, para prover o sustento do falecido na sua caminhada para uma outra vida após a morte, ou como uma espécie de homenagem às divindades do submundo.
"Longe de serem consumidas para fins lúdicos, as plantas de drogas e as bebidas alcoólicas tiveram um papel sagrado entre as sociedades pré-históricas", afirma Elisa Guerra-Doce . "Não é por isso surpreendente que a maioria desses vestígios arqueológicos derivem de locais onde foram sepultadas as elites, ou de sítios cerimoniais restritos, o que sugere a possibilidade de que o consumo de produtos que alteram a mente era socialmente controlado na Europa pré-histórica".
Referencia: Guerra-Doce, E. (2014). The Origins of Inebriation: Archaeological Evidence of the Consumption of Fermented Beverages and Drugs in Prehistoric Eurasia. Journal of Archaeological Method and Theory. DOI 10.1007/s10816-014-9205-z.