A regeneração urbana de Braga prossegue dentro dos prazos previstos, apesar do alarde à volta de alegadas consequências para o património, de resto já desmentidas pelas equipas arqueológicas que supervisionam os trabalhos.
Para já o vice-presidente da câmara, Vítor Sousa, só considera “válidas as orientações científicas dos arqueólogos altamente qualificados que estão a acompanhar as obras de requalificação” em curso na cidade.
“É por elas que o projecto A Regenerar Braga se norteia, cumprindo, rigorosamente, as determinações dos arqueólogos quanto à melhor forma de execução destes trabalhos sempre que se torne necessário acautelar qualquer valor patrimonial de relevo”, esclarece o autarca. “Tudo quanto seja dito sem a chancela científica dos arqueólogos sobre pretensas destruições de património, relacionando-as com as obras em curso, só pode ser interpretado como mero exercício de imaginação”, acrescenta Vítor Sousa, que superintende o projecto ‘A Regenerar Braga’.
O responsável científico destacado pela Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho para supervisionar as obras no Largo Carlos Amarante considerou mesmo sem “fundamento cientifico” afirmações vindas a lume que garantiam a danificação de património em resultado da requalificação em curso nessa zona.
Segundo o referido responsável cientifico, Luís Fontes, os trabalhos arqueológicos no Largo Carlos Amarante “permitiram identificar duas sepulturas de época romana”, uma “intacta” e “conservada” e outra “parcialmente destruída”.
Os trabalhos permitiram também identificar, ainda conservados, “os alicerces do antigo Convento dos Remédios” e “diversas galerias antigas de saneamento (uma tardo-medieval, conservada, e outra recente, datada de 1910-1920, parcialmente desmontada”, além de “inúmeras infraestruturas contemporâneas e recentes de abastecimento de água, electricidade, saneamento, gás e telecomunicações”.
“Por indicação da equipa de arqu
eologia, a implantação da nova conduta de saneamento está a ser feita no traçado que evita a destruição de vestígios arqueológicos com interesse”, indica ainda o arqueólogo Luís Fontes.
Preservar o subsolo de Braga como reserva arqueológica
Os especialistas envolvidos nestas intervenções conhecem, desde há muito, o cadastro arqueológico do subsolo de Braga, que permitiu, de resto, conceber um mapa pormenorizado sobre o assunto. A existência desse cadastro, que resultou de inúmeras informações fornecidas por sucessivas intervenções arqueológicas, faculta-lhes também um conhecimento completo sobre o urbanismo de Braga nas épocas romana e medieval, além dos períodos setecentista e oitocentista.
As ‘grandes directrizes’, aceites pelos arqueólogos “por uma questão de metodologia”, vão no sentido de “não interferir no subsolo existente” com escavações “por tudo quanto é sítio” até para evitar danos desnecessários em vestígios que permanecem em “reserva arqueológica”, explica Armandino Cunha, responsável pelo Gabinete Municipal de Arqueologia.
“Hoje, temos noção do que existe no subsolo de Braga, conhecemos as intervenções que nele se fizeram ao longo dos tempos, sabemos o que pode ser encontrado a qualquer momento, mas o conceito de reserva arqueológica desaconselha, o mais possível, que se mexa no subsolo existente”, adianta Armandino Cunha.
A metodologia visa salvaguardar “um acervo de reserva arqueológica de forma a que os investigadores do futuro possam utilizá-la com as ferramentas que lhe sejam contemporâneas”. “Trata-se de uma atitude de humildade que reconhece uma grande transformação e constante notabilidade nos meios utilizados na investigação. Quando podemos evitar a escavação, evitamos. Nos casos em que se tornem necessárias obras como as que estão a ser realizadas, tenta-se minimizar ao máximo o impacto de qualquer intervenção, preservando tudo o que possa ser de interesse para uma interpretação de futuro”, esclarece ainda aquele responsável.
Fonte: Correio do Minho