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Foto: AlphaGalileo
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Investigadores da Dinamarca e da Alemanha vão examinar cerca de 1000 esqueletos de pessoas que viveram na cidade de Schleswig e em outras localidades da Alemanha e da Dinamarca durante este período. Aproximadamente 1000 esqueletos humanos serão analisados durante o período de duração do projeto que é de três anos.
As amostras serão recolhidas a partir de 350 esqueletos sobre os quais recairá um conjunto muito variado de análises. O projeto é financiado através dos fundos europeus em cerca de 530,000 Euros e co-financiado com um total de 280.000 Euros pelas universidades de Kiel e Gottdorf Schloss, respectivamente da Dinamarca e Alemanha.
A partir do século VI os conflitos éticos e políticos eram comuns na região ao longo da fronteira germano-dinamarquesa. No contexto medieval, o conflito foi acentuado quando Schleswig foi transformado num ducado, cuja independência foi sendo reivindicada a partir da supremacia do rei dinamarquês. A partir deste período, a região sofreu um processo gradual de germanização.
A cidade de Schleswig e arredores permaneceu uma área de conflito entre alemães e dinamarqueses após a 1 ª Guerra Mundial, quando um referendo em 1920 transformou a metade norte do Schleswig em ducado dinamarquês e o restante num ducado alemão.
Desde essa altura, a região ficou pacificada e é hoje apontada como um exemplo de boas relações étnicas entre os dois povos. É sobre este cenário que foi colocada uma questão pertinente: de onde descendem os atuais habitantes de Schleswigers? Eles nasceram e foram criados em Schleswig ou vieram de outras partes da Alemanha, Dinamarca ou mesmo de locais mais longinquos? Até agora, existe apenas um conhecimento vago da história e da identidade das pessoas comuns do início da Idade Média.
O projeto "Bones4Cultures" visa colmatar esta lacuna no entendimento desta história comum. No processo de investigação vão estar envolvidas novas técnicas analíticas e espera-se que no fim do projecto a população medieval que habitou junto da fronteira germano-dinamarquesa seja a melhor conhecida do mundo.
O líder do projeto, Professor Jesper Boldsen da SDU, refere que "o primeiro passo na “Bones4Culture” foi criar uma base de dados para que todas as análises antropológicas realizadas a esqueletos que foram escavados em cinco cemitérios Schleswig.
Esta base de dados informativos já permitiu coligir conhecimento sobre a idade e composição por sexo das amostras, e até mesmo dados sobre a ocorrência da doença mais temida na Idade Média: a lepra. Parece que a lepra era uma doença muito comum e que a prevalência da doença diminuiu a partir do final da Idade Média”.
Posteriormente, todas as amostras de ossos selecionadas serão submetidas a novas análises químicas para detectar chumbo, estrôncio e mercúrio. "Mesmo pequenas quantidades deste último elemento químico são tóxicas. No entanto, o mercúrio era usado para curar certas doenças e o chumbo estava presente nos esmaltes cerâmicos da louça de casa que todos os dias estava em contacto com as pessoas ", explica o professor Kaare Lund Rasmussen da SDU.
A detecção destes elementos, possibilitará aos cientistas estudarem doenças comuns na Idade Média, o seu tratamento e a contaminação produzida pelos metais pesados naquela época. As análises de estrôncio / cálcio, que podem ser realizadas em amostras colhidas a partir de matéria dental, podem responder a perguntas relativas à dieta alimentar daquela época. "Queremos saber se tinham uma dieta predominantemente vegetariana ou se comiam muita carne. Os isótopos de estrôncio também nos darão informações sobre a mobilidade e sedentarismo, pois eles diferem devido a certas ocorrências e perturbações regionais ", diz o professor Anton Eisenhauer. Outras datações como as de radiocarbono também serão efetuadas para complementar o estudo sobre as pessoas que viveram nesta zona transfronteiriça.
O professor Claus von Carnap-Bornheim, do Centro de Arqueologia escandinava e do Báltico explica: "Nós vamos determinar a idade, o tipo de doenças e a dieta que era comum entre a população na Idade Média nesta área. O projeto é suposto revelar novas informações sobre a vida da população ao longo da fronteira germano-dinamarquesa naquele momento. Vamos passar esse conhecimento para os moradores de hoje e para os turistas que visitam a região. "
Fonte: AlphaGalileo