Arqueólogos portugueses querem partir da Síria para o Iraque

A equipa de arqueólogos da Universidade de Coimbra que se dedicava ao estudo do período helenístico na Síria, e que suspendeu a campanha devido ao conflito no país, deverá transferir-se no próximo ano para o vizinho Iraque. 


Conceição Lopes, directora da equipa, revelou à agência Lusa que estão a decorrer contactos com a Universidade da Pensilvânia (EUC) e entidades financiadoras para montar um projecto, «no mínimo a cinco anos», para dar continuidade aos estudos sobre aquele período na Alta Mesopotâmia.

Desde 2009 que a equipa portuguesa se encontrava na antiga cidade de Nabada, actual Tell Beydar, no Curdistão sírio. Agora perspectiva dar continuidade aos trabalhos no Curdistão iraquiano, do outro lado do Rio Tigre, e próximo da fronteira com o Irão. O local escolhido foi Kani Shai, na zona de Sulaimania, e junto aos Montes Zagros.

Uma equipa conjunta, das universidades de Coimbra e Pensilvânia já se deslocou ao Iraque e fez uma prospecção no local escolhido, revelou à agência Lusa Ricardo Cabral, que foi o responsável de campo da missão na Síria. Essa prospecção à superfície - acrescentou - revelou «materiais que vão desde a Idade do Bronze, do III milénio, até ao período islâmico», à volta do século V D.C., e foi notada «a presença de cerâmica parta» (final séculos II e I A.C.), que interessa para o estudo do helenístico.

Segundo Conceição Lopes, Kani Shai situa-se numa zona de transposição da cordilheira dos Zagros e era utilizada como uma das rotas do comércio entre o ocidente e o oriente, e integrou a também 'Rota da Seda'.

A campanha no campo de Tell Beydar, na Síria, permitiu realizar duas teses de mestrado de estudantes e a sua suspensão pôs em risco o trabalho de doutoramento de Ricardo Cabral e do colega André Tomé.

A transferência para o Iraque permitiria colmatar o que lhes faltou, explicou aquela responsável, igualmente professora na Universidade de Coimbra.

A equipa portuguesa iniciou a actividade na Síria em 2009 a convite do European Centre for Upper Mesopotamian Studies (ECUMS), uma rede europeia em estudos arqueológicos na Mesopotâmia, e após o reconhecimento do «excelente desempenho» de Ricardo Cabral e André Tomé, que desde o ano anterior estagiavam com a equipa de arqueólogos belga.

«Neste momento Portugal começa a aparecer como uma equipa de referência para estes estudos», diz Conceição Lopes, frisando que a sua continuidade é de grande importância para a internacionalização da arqueologia portuguesa, e em particular numa zona do mundo onde tem estado pouco presente.

Se a Síria tem despertado a atenção nos últimos anos de equipas de arqueólogos estrangeiros, o Iraque tem estado esquecido, e «aí é que não se sabe rigorosamente nada do período helenístico», acentua.

Conceição Lopes revela que há boas perspectivas de a Fundação para a Ciência e Tecnologia permitir a transferência do financiamento não gasto na Síria para o projecto do Iraque.

Entretanto aguarda respostas a candidaturas feitas junto da Fundação Gulbenkian, da National Geografic e sobre as diligências da parceira Universidade da Pensilvânia nos EUA.

Fonte:  Lusa/SOL
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