Análise do genoma do menino Anzick-1 nega origem solutrense da “Cultura Clovis”

Uma publicação editada recentemente na revista Nature apresenta os resultados da análise do genoma de uma criança pertencente à “Cultura Clovis” , derrubando a teoria que defendia que as Américas foram povoadas pelos europeus ocidentais que de alguma forma cruzaram o Oceano Atlântico e transportaram com eles uma tecnologia da pedra com semelhanças à industria lítica solutrense.

A “Cultura Clovis” desenvolveu-se entre 13.000 e 12.600 anos na América do Norte e América Central. Os Pré-historiadores ainda não sabem se a expansão dessa cultura no continente americano se deveu a um único povo, ou se a adoção de uma nova tecnologia (que fundamentalmente se caracteriza por uma nova técnica do talhe da pedra), foi feita por diferentes comunidades ao mesmo tempo.

Esta nova tecnologia foi associada a tipologias de talhe da indústria solutrense que se desenvolveu sobretudo na França e na Península Ibérica, tendo daí surgido uma teoria que atribuía à “Cultura Clovois” uma origem europeia.

Os primeiros vestígios da “Cultura Clovis” foram encontrados no Novo México em 1930 e, mais tarde, em 1968, foi descoberto no local da Anzick (Montana), o único enterramento conhecido que está associado com essa mesma cultura.

Os ossos, que correspondem a uma criança que viveu alhures entre 12.707 e 12.556 anos, estavam depositados sob uma camada de artefactos de pedra e encontravam-se cobertos com ocre vermelho. Foi sobre este material osteológico que incidiu a análise do genoma cujos resultado foram publicados na revista Nature.

"Em consonância com estudos arqueológicos e genéticos anteriores, a nossa análise do genoma refuta a possibilidade de que a cultura Clovis foi originada por uma migração Europeia (Solutrense) para a América", defende Morten Rasmussen, investigador do Museu de História Natural da Dinamarca e colaborador da revista Nature.

O estudo mostra que Anzick-1, nome pelo qual é conhecida a criança, está intimamente relacionada com os atuais nativos americanos.

"A não ser que os proponentes da hipótese Solutrense apresentem provas da ascendência europeia em outros genomas que estejam bem datados em antigos americanos, a hipótese Solutrense não pode ser aceite como teoria credível para as origens da “Cultura Clovis”. Está na altura de passar para temas mais interessantes ", dizem Jennifer Raff e Deborah Bolnick da Universidade do Texas.

Referência: The genome of a Late Pleistocene human from a Clovis burial site in western Montana. Nature, DOI: 10.1038/nature13025

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