Continuamos a usar os mesmos conceitos e as mesmas técnicas artísticas de há 20.000 anos

Uma escultura de uma rena esculpida em chifre de mamute, a cabeça de cabra da gruta de Tito Bustillo ou o urso de Jarama II são algumas das peças que fazem parte da exposição “A Arte na Época de Altamira” , patente na sala de exposições da Fundação Santander, Espanha, até 29 de setembro.

Pode parecer paradoxal classificar como "novo" estas peças de arte, já que existem desde há 22.000 e 12.000 anos, mas é a primeira vez que estão a ser mostradas ao público juntamente com obras contemporâneas de artistas como Miro ou Matisse. A ideia nasceu de uma colaboração entre o Museu Britânico de Londres e a Fundação Botin a propósito da exposição “Arte na Idade do Gelo: a chegada da mentalidade moderna”, realizada pelo Museu Britânico no ano passado.

As peças estão expostas em vitrines de vidro numa pequena sala mal iluminada e tectos altos, decorados com imagens da caverna de Altamira. Mas a originalidade desta mostra não está na decoração. É possível que resulte impactante, impressionante, mesmo chocante, poder ver esta exposição que mistura obras de arte separadas por tão amplo espaço temporal, mas o responsável Jill Cook, um conservador e especialista do Paleolítico e Mesolítico do Departamento do Museu Britânico, explica que o objetivo de misturar peças antigas e peças contemporâneas é mostrar que apesar de 20 mil anos de distância "os seres humanos ainda usam os mesmos conceitos e as mesmas técnicas artísticas, não há intervalo de tempo. "

Para este conservador e museólogo, a arte é o que nos torna pessoas, é "parte de nossa essência como seres humanos e fundamental para a nossa sobrevivência." Jill Cook diz que esta exposição tem como objetivo transmitir essa mensagem. “Eu queria apresentar esta exposição não como um museu de peças arqueológicas, mas como obras de arte dentro de um centro de arte”, sublinha.

“A Arqueologia estuda estes objetos como peças documentais para descobrir como era a vida nos tempos pré-históricos, como viviam e como comiam os nossos antepassados, mas o mais surpreendente desta exposição é transmitir a ideia de que as pessoas que viveram na caverna de Altamira tinham o mesmo cérebro que nós e a mesma capacidade visual ", diz Jill Cook.

O Comissário usa um dos primeiros objetos expostos na sala - uma figura esculpida em pedra decorada-, para explicar que "os seres humanos não fazem as coisas apenas para cumprir uma função, mas também para expressar outro tipo necessidades como a emocional e a sensitiva." Para criar a peça a que Cook alude utilizou-se a mesma técnica para fazer pontas de lança. "É um objeto grande e muito fino, de modo que não tem qualquer utilidade, qualquer função prática. No entanto, a pedra a partir da qual foi esculpida esta obra de arte foi transportada de um local a mais de 150 quilómetros de distância", refere o conservador do Museu Britânico.

Jill Cook diz-se agradecido não só para com os promotores da iniciativa, mas também perante outros centros que colaboraram na montagem da exposição como, por exemplo, o Museu Arqueológico das Astúrias e o Museu de Madrid, o Museu de Pré-História e Arqueologia da Cantábria, os museus alemães de Halle e Weimar e os museus franceses de Abadía de Arthous e de Eyzies.

A única coisa que lamentou o comissário foi o facto de a exposição não poder circular por outras cidades de Espanha devido à fragilidade de algumas peças. "O resto dos espanhóis terão que vir a Santander para a poderem ver”, diz Jill Cook com um sorriso.

Fonte: El Pais
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