Pode parecer paradoxal classificar como "novo" estas peças de arte, já que existem desde há 22.000 e 12.000 anos, mas é a primeira vez que estão a ser mostradas ao público juntamente com obras contemporâneas de artistas como Miro ou Matisse. A ideia nasceu de uma colaboração entre o Museu Britânico de Londres e a Fundação Botin a propósito da exposição “Arte na Idade do Gelo: a chegada da mentalidade moderna”, realizada pelo Museu Britânico no ano passado.
As peças estão expostas em vitrines de vidro numa pequena sala mal iluminada e tectos altos, decorados com imagens da caverna de Altamira. Mas a originalidade desta mostra não está na decoração. É possível que resulte impactante, impressionante, mesmo chocante, poder ver esta exposição que mistura obras de arte separadas por tão amplo espaço temporal, mas o responsável Jill Cook, um conservador e especialista do Paleolítico e Mesolítico do Departamento do Museu Britânico, explica que o objetivo de misturar peças antigas e peças contemporâneas é mostrar que apesar de 20 mil anos de distância "os seres humanos ainda usam os mesmos conceitos e as mesmas técnicas artísticas, não há intervalo de tempo. "
“A Arqueologia estuda estes objetos como peças documentais para descobrir como era a vida nos tempos pré-históricos, como viviam e como comiam os nossos antepassados, mas o mais surpreendente desta exposição é transmitir a ideia de que as pessoas que viveram na caverna de Altamira tinham o mesmo cérebro que nós e a mesma capacidade visual ", diz Jill Cook.
O Comissário usa um dos primeiros objetos expostos na sala - uma figura esculpida em pedra decorada-, para explicar que "os seres humanos não fazem as coisas apenas para cumprir uma função, mas também para expressar outro tipo necessidades como a emocional e a sensitiva." Para criar a peça a que Cook alude utilizou-se a mesma técnica para fazer pontas de lança. "É um objeto grande e muito fino, de modo que não tem qualquer utilidade, qualquer função prática. No entanto, a pedra a partir da qual foi esculpida esta obra de arte foi transportada de um local a mais de 150 quilómetros de distância", refere o conservador do Museu Britânico.
Jill Cook diz-se agradecido não só para com os promotores da iniciativa, mas também perante outros centros que colaboraram na montagem da exposição como, por exemplo, o Museu Arqueológico das Astúrias e o Museu de Madrid, o Museu de Pré-História e Arqueologia da Cantábria, os museus alemães de Halle e Weimar e os museus franceses de Abadía de Arthous e de Eyzies.
A única coisa que lamentou o comissário foi o facto de a exposição não poder circular por outras cidades de Espanha devido à fragilidade de algumas peças. "O resto dos espanhóis terão que vir a Santander para a poderem ver”, diz Jill Cook com um sorriso.
Fonte: El Pais