Foto: IGESPAR, via O Corvo |
Só em 2010 é que um troço da muralha da Ribeira, com 40 metros de comprimento, viria a ser detectado no subsolo do saguão do edifício-sede do Banco de Portugal, durante as escavações arqueológicas prévias ao início das obras. O Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar) confirmou, na altura, tratar-se da muralha de Dom Dinis, monumento nacional e que, por isso, não poderia ser demolido. Teve então de ser integrado no projecto de requalificação do edifício do Banco de Portugal. A instituição decidiu musealizar a antiga muralha, que será agora, pela primeira vez, tornada visível para o grande público, a partir de dia 22 de Abril.
A informação sobre a abertura ao público deste importante património da Lisboa medieval foi dada durante uma visita às obras de restauro da Igreja de São Julião, organizada, na semana passada, no âmbito da Semana da Reabilitação Urbana de Lisboa – a decorrer até amanhã.
Nesta visita, conduzida pelo arqueólogo Carlos Boavida, da Lisboa Autêntica – uma das muitas empresas envolvidas na Semana da Reabilitação -, foi reconstituído o percurso das complexas obras que permitiram a requalificação da Igreja de São Julião e de todo o quarteirão pombalino ocupado pelo Banco de Portugal. As obras obedeceram a um projecto de arquitectura de Gonçalo Byrne e Falcão de Campos e a um projecto de estruturas e fundações da A2P, coordenada pelos engenheiros João e Vasco Aplleton.
Foi durante as obras que surgiram diversas estruturas que há muito tinham deixado de estar visíveis, como foi o caso de vestígios do altar-mor da igreja. Mostra-se agora recuperado e reinventado em todo o seu esplendor, sendo, por enquanto, essa a única área do edifício que está aberta ao público.
Inicialmente construída noutro local – a norte da Igreja de Nossa Senhora da Oliveira, no cruzamento da Rua de São Julião com a Rua Augusta -, a Igreja de São Julião fora já reconstruída por diversas vezes, na sequência de danos sofridos ao longo dos séculos. Só depois do terramoto de 1755, que danificou a igreja inicial, é que ela passou a existir no Largo de São Julião, onde agora voltou a estar – ainda que dessacralizada, desde 1933, quando foi comprada pelo Banco de Portugal.
A primeira reconstrução, concluída em 1810, durou pouco tempo intacta. Seis anos depois, um grande incêndio destruiu todo o recheio do templo. Por isso, voltou a entrar em obras, que se prolongaram até 1854. Em 1868, o Banco de Portugal começou a adquirir parte das construções e em 1933 instalou ali a sua sede.
A mais recente intervenção, concluída em 2012, permitiu recuperar muita da cantaria original do edifício pombalino, considerada de elevada qualidade. E ajudou também a conhecer melhor a história da antiga igreja, que será narrada no centro de interpretação que está a ser criado na área onde foi encontrada a muralha de Dom Dinis.
Texto: Fernanda Ribeiro, in O Corvo »»