Foram três horas a discutir a política cultural dos últimos meses com o secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, na audição regimental da Comissão de Educação, Ciência e Cultura, na Assembleia da República. A discussão percorreu praticamente todas as áreas, com destaque para o cinema, o apoio às Artes e o estado do Património, mas não houve novidades anunciadas por Barreto Xavier, que, contra as críticas da oposição, se disse “satisfeito” com o trabalho que tem vindo a desenvolver na Secretaria de Estado da Cultura (SEC).
“Ao fim do tempo que tenho de Governo, estou satisfeito com as possibilidades de resultados”, começou por dizer ontem o secretário de Estado, acusando a oposição de apenas olhar para “o lado negro das coisas”. “É nos momentos de dificuldade, como este, que conseguimos perceber o que é possível fazer com poucos recursos. E temos feito muito”, continuou Barreto Xavier, defendendo o seu trabalho ao leme da tutela: “Fazer muito não significa fazer o que o PS quer, fazemos aquilo que o país merece em termos culturais”. "Embora o país e os portugueses mereçam sempre mais."
“Apesar da imensa dificuldade que corresponde gerir hoje uma decisão cara e eventualmente não necessária do governo anterior, vamos concluir a obra do Museu dos Coches”, disse Barreto Xavier aos deputados, explicando no fim aos jornalistas que estas obras vão começar “em breve” e garantindo ainda que a abertura do Museu ao público vai acontecer em 2015.
Esta semana o Centro Nacional de Cultura, que representa Portugal na Europa Nostra (uma associação pan-europeia de defesa do património) e que já no final do ano passado tinha alertado para a situação de degradação em Mafra, divulgou a lista dos onze monumentos pré-seleccionados para a lista dos bens em perigo, onde além dos carrilhões surge também o Paço de Vilar de Perdizes. A lista final dos 7 sítios mais ameaçados é conhecida a 5 de Maio durante o Congresso Europeu do Património, em Viena.
“Não é possível, devido à riqueza do nosso património, ter tudo resolvido, mas temos trabalhado atentamente para garantir o apoio”, acrescentou Barreto Xavier, explicando que durante a sua tutela “já mais de 120 edifícios foram intervencionados”. “Para reabilitação, o Estado gastou mais de 18 milhões de euros em 2013 e para 2014 há verbas significativas para esse efeito”, continuou, dando como exemplo a Casa das Artes, que reabriu no Porto no final do ano passado, e a Casa Aristides Sousa Mendes, em Cabanas de Viriato, que “já está a ser intervencionada”.
Mas nem com estes dados, Barreto Xavier fugiu às críticas dos deputados da oposição, que incidiram maioritariamente naquilo que dizem ser uma falta de apoio às artes. Na semana em que a Direcção-Geral das Artes abriu os concursos de apoio pontual e de internacionalização, soube-se também que os concursos de apoios anuais às estruturas artísticas não existirão este ano.
Inês de Medeiros, do PS, falou de uma “total ineficácia e paralisação” na Cultura, não compreendendo como é que Barreto Xavier reconhece que a frequência cultural dos portugueses é baixa e por isso grave para o país e em função disso decide reduzir os apoios. “É uma lógica surpreendente esta.”
Em resposta, Barreto Xavier disse que se as contas forem feitas perceber-se-á que desde que tem responsabilidades na área, “o apoio aumentou e não diminuiu”. “Comigo não houve baixa de financiamento às artes. Eu gostaria de ter mais dinheiro mas o dinheiro é este”, defendeu o secretário de Estado, explicando depois no fim da audição que a opção de não abrir os concursos anuais se deveu à falta de tempo. No entanto, Barreto Xavier garante que o montante atribuído este ano é semelhante ao de 2013 e por isso as estruturas que concorreriam aos concursos anuais, podem concorrer agora aos pontuais. “O que muda é a forma de distribuição dos apoios, o procedimento dos anuais, sendo que já estamos no mês de Março, é muito mais lento”, explicou aos jornalistas, concluindo que esta foi a forma encontrada de conseguir melhores resultados junto das estruturas.
Jorge Barreto Xavier volta à Assembleia da República para a semana para a audição pedida pelo PS, e aprovada pela maioria, para prestar esclarecimentos sobre o controverso caso da colecção de 85 obras de Joan Miró.
Fonte: Público