Coordenador de 'Encontros com o Património' defende mais divulgação de ações nesta área

O arquiteto Manuel Lacerda, coordenador do programa radiofónico "Encontros com o Património", distinguido com o Prémio Europa Nostra, defendeu que se deve "divulgar mais" as diversas ações em prol do património.

Em declarações à Lusa, Manuel Lacerda afirmou-se "muito satisfeito" pela distinção europeia, mas chamou à atenção que "muito tem sido feito na área do património, por associações, autarquias, etc., que não é divulgado e, hoje, quem não passa na rádio ou na televisão não existe".

O programa, da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), é emitido na TSF há sete anos, tendo abordado mais de 300 temas de todas as regiões do país, com a participação de cerca de mil convidados, disse Manuel Lacerda.

"Este é um programa em que procuramos simplificar as questões, pois destina-se a todos e não é para especialistas", salientou à Lusa Manuel Lacerda, referindo que, tendo "uma audiência fiel, tem vindo a alargar o leque de ouvintes".

"O programa contribui para um melhor conhecimento e sensibilização das populações para o património", disse o responsável, que realçou que "há muita coisa que é feita" nesta área, mas "não é divulgada, e merecia-o".

Manuel Lacerda salientou o facto de o júri ter, na sua apreciação, referido que "este é um programa que podia ser replicado por outros países, tendo-o dado assim, como exemplo".

Neste sentido, Lacerda considerou que o Europa Nostra pode ser "um incentivo" para outros meios de comunicação em Portugal "dedicarem mais espaço e atenção ao muito que se faz em prol do património".

Além da equipa da TSF, designadamente o jornalista Manuel Villas-Boas que faz a apresentação, o programa semanal, aos sábados, conta com uma equipa de três profissionais da DGPC, entre eles, Manuel Lacerda.

"O programa contribui para um melhor conhecimento e sensibilização das populações para o património" O responsável sublinhou que o programa "é um dos projetos que os profissionais têm em mãos", não trabalhando exclusivamente para a emissão semanal.

Nesta categoria foram também distinguidos quatro outros projetos, designadamente o programa albanês "Património Cultural sem Fronteiras -- Campos Regionais de Restauro" e o "Caso Coen", na cidade holandesa de Hoorn.

O "Caso Coen" deve-se à polémica iniciada em 2011, por um grupo de cidadãos, para remover a estátua de Jan Pieterszoon Coen (1587-1629), que foi governador-geral da Companhia das Índias Orientais, fundador da Batávia, atual Jacarta. Segundo informa a Europa Nostra no seu "site", um grupo de cidadãos alegava que Coen tinha sido, de forma brutal, um administrador colonial.

A estátua situava-se em frente ao museu de Hoorn, cuja coleção versa a chamada "Idade de Ouro" da Holanda, tendo optado ser um "motivador e facilitador", neste conflito de interesses, "ajudando as pessoas a fazer os seus próprios juízos, apresentando factos históricos e toda uma panóplia de detalhes e a respetiva contextualização das atividades de Coen".

O museu publicou novas investigações históricas, criou um "site", realizou visitas guiadas aos objetos relevantes da sua coleção, tendo ainda montado "uma exposição em forma de um julgamento, pedindo que os visitantes, como membros dos jurados, decidissem se Coen era digno de ter, ou não, uma estátua. "A estátua ainda está lá!", remata a Europa Nostra.

Outro distinguido foi o Projeto Atjaro, desenvolvido na cidade de Miskolc, no norte da Hungria. Detentora de "uma orgulhosa história desde os tempos medievais, conseguiu, mais recentemente, um período de prosperidade notável a partir de 1930, baseada na indústria pesada".

Todavia, na década de 1990, dá-se um "rápido declínio industrial" e, com a mudança de regime político, acabou por desenvolver o Projecto Atjaro (passagem, em húngaro), que é "um extenso programa de proteção do património cultural", centrado na preservação, reconhecimento e sensibilização do passado cultural e industrial de Miskolc e sobre a revitalização e reapresentação do património construído, que sobreviveu", escreve a Europa Nostra.

O quinto distinguido é o Fundo Shaping 24, de promoção do património comum das cidades de Ghent, na Bélgica, e de Norwich, no Reino Unido.

Segundo a Europa Nostra, este Fundo, constituído com apoio financeiro da União Europeia, "é um exemplo dos benefícios da partilha de recursos e ideias e de uma memória da vida de duas importantes cidades europeias, que podem cooperar e aprender uma com a outra".

"Os elementos do programa incluíram promoções especiais, eventos específicos, projetos educacionais, `noivados` comunitários e aplicações da nova tecnologia", afirma a Europa Nostra no seu sítio na Internet.

Para o júri dos prémios, "Shaping 24 é um modelo para a colaboração transfronteiriça e atividade comunitária sustentável, capaz de adaptação a outras geminações de cidades e vilas históricas na Europa e mais além".

Portugal recebeu um outro prémio Europa Nostra, na categoria "Conservação", para uma candidatura da Câmara de Loures da Rota das Linhas de Torres, referente às fortificações portuguesas no contexto das Invasões Francesas (1807-1811).

A cerimónia de entrega do Prémio da União Europeia para o Património Cultural/Prémios Europa Nostra de 2014 realiza-se no dia 05 de maio, no Burgtheater, em Viena, quando serão também conhecidos os vencedores do Grande Prémio, no valor 10.000 euros, escolhidos entre os 27 distinguidos, e o do Prémio do Público, resultante da votação "online".

Os 27 vencedores nas diferentes categorias -- "Conservação", "Investigação", "Contribuições exemplares", "Educação, formação e sensibilização" -, foram selecionados entre 160 projetos, candidatos de 30 países.

Espanha e Itália são os países com o maior número de prémios -- quatro cada -- tendo o júri distinguido candidaturas de 15 nações, incluindo dois Estados -- Rússia e Suíça -, que não participam no Programa Cultura da União Europeia (2007-2013).

Fonte: Lusa