Câmara de Leiria faz levantamento no Lapedo para apurar eventuais ilegalidades

A Câmara de Leiria está a fazer o levantamento dos trabalhos realizados no Vale do Lapedo, uma zona protegida em Santa Eufémia, para apurar eventuais ilegalidades após a denúncia de uma especialista e de uma associação ambientalista.

Vale do Lapedo - Foto Wikipédia
"Foram feitos trabalhos de desmatação de terreno, construções, pontes pedonais e vedações", afirmou em reunião do executivo municipal o vereador do pelouro do Ambiente, Ricardo Santos.

O autarca adiantou que deslocaram-se técnicos da autarquia, ao local, para "fazer o levantamento do que se está a passar" e aferir o que "está ou não autorizado naquele espaço".

Confirmando-se trabalhos em desconformidade com a lei, o vereador assegurou que o município irá dar conta, "nomeadamente ao Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas e à Administração da Região Hidrográfica [do Centro], para pedir, também, a intervenção destas entidades".

A semana passada, a especialista em arqueociências Ana Cristina Araújo disse que o sítio do Abrigo do Lagar Velho e o Vale do Lapedo, o primeiro classificado como monumento nacional e o segundo abrangido por uma Zona Especial de Proteção, estão a sofrer agressões que podem colocar em risco este património cultural e natural.

A técnica, que trabalha para o Laboratório de Arqueociências da Direção Geral do Património Cultural, afirmou que "há trabalhos que interferem com a arqueologia e com o património natural e cultural do vale".

Abrigo do Lagar velho- Foto Wikipédia
Em causa está o sistemático corte de árvores e outra vegetação, a instalação de vedações, algumas de arame farpado, que impedem acesso à linha de água, "o que é ilegal", e a construção de uma infraestrutura e acessos "sem qualquer aviso de licenciamento".

"Se não se intervém rapidamente, aqueles riquíssimos dois quilómetros de vale correm o risco de ser descaracterizados. Não há outro local como aquele em Portugal. São milénios de história que estão ali, num património natural que também é único", sublinhou Ana Cristina Araújo.

Já esta semana, a Oikos -- Associação de Defesa do Ambiente e do Património da Região de Leiria denunciou que o Vale do Lapedo "continua a ser alvo de atentados cada vez mais graves a caminho de uma agonia que conduzirá à sua completa destruição".

"Ao longo de uma grande extensão estão a ser feitas obras de pavimentação de acessos ao longo da ribeira, bem como outras obras `duras` mesmo junto à margem e ainda mais uma ponte", refere a associação, em comunicado.


Segundo a Oikos, "além das obras em curso, constatou-se a destruição quase completa da vegetação ribeirinha e ainda da desmatação `rasa`, com destruição total da vegetação autóctone, herbácea a arbustiva, de uma longa extensão da encosta".

"Em termos ambientais, estas ações são de grande gravidade, dada a elevada quantidade de património natural - e porventura arqueológico - que já foi destruída para além da exposição à erosão que irá daqui decorrer, quer nas margens da ribeira, quer na encosta, numa área de grande sensibilidade ecológica", considera a Oikos.

O Abrigo do Lagar Velho tornou-se famoso após a descoberta, em 1998, do fóssil de uma criança de quatro anos, cujas características anatómicas comprovam a miscigenação de populações Neanderthal com os primeiros Homo Sapiens Sapiens.

Fonte: RTP




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