Cais do Valongo, zona portuária, local onde embarcaram mais
de 1 milhão de escravos africanos (Foto: Divulgação)
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Milhares de objetos do século 19 estão em processo de estudo após sua descoberta no Cais do Valongo, zona portuária, local onde embarcaram mais de 1 milhão de escravos africanos e que concorre ao status de patrimônio da humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Se por um lado o crescimento e a valorização da prática foram bem-vindos pelos arqueólogos, o aumento vertiginoso da demanda por profissionais, por fiscalização e por locais adequados ao armazenamento das relíquias é motivo de apreensão para a categoria.
“Os arqueólogos estão escavando, mas não há onde guardar [as peças]. Tem material jogado. É uma questão física, não há espaço. Os museus não têm verbas, os funcionários ganham pouco, a fiscalização e a regulamentação da prática são frouxas”, critica Prado de Mello. “Nos países de primeiro mundo, os museus investem em reformas, ampliam seus espaços. Aqui, ninguém se responsabiliza pelo material”.
Apesar das críticas, Prado de Mello acha que 2013 foi um ano muito positivo para a arqueologia em relação ao aumento da conscientização da população a repeito da importância de se preservar o patrimônio histórico.
“Devido à Copa e às Olimpíadas, a cidade [Rio] está sendo escavada toda, então é muito importante que, além da sociedade, o poder público também tenha consciência da importância dos sítios e achados arqueológicos”, completou.
O arqueólogo Eduardo Neves, do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (USP), ponderou que o desafio do setor no Brasil é equiparar a quantidade das pesquisas à qualidade dos trabalhos. “Esse crescimento é bom, mas gera uma série de problemas. Não temos um bom controle de qualidade das pesquisas que estão sendo feitas, estamos produzindo muitos acervos que estão sendo guardados em locais pouco adequados”, lamenta.
A diretora do Centro Nacional de Arqueologia (CNA), Rosana Najjar, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) destaca que a meta do órgão para 2014 é justamente enfrentar o problema da falta de locais adequados de armazenamento e da falta de diagnóstico das coleções.
Rosana ressaltou que o Iphan pretende visitar cada instituição com acervos, pelo menos uma vez, até o fim do ano que vem. “Faremos uma grande vistoria e depois um diagnóstico e um plano com regras para análise, conservação e guarda da coleção. Em seguida, daremos um prazo para que as instituições se adequem”.
O CNA é responsável pela autorização e permissão de todas as pesquisas arqueológicas no país, seu acompanhamento e fiscalização, além da implementação de ações de socialização do patrimônio arqueológico. Até a segunda semana de dezembro, segundo Rosana, houve 1.361 pesquisas autorizadas, quase o dobro do ano passado.
Cerca de 95% das pesquisas feitas são de contrato, quando há exigência de arqueólogos em obras de impacto ambiental, como rodovias e hidrelétricas. Para atender a essa demanda, o órgão tem cerca de 40 arqueólogos distribuídos entre 27 superintendências.
Crédito: Agência Brasil