Arqueólogos portugueses vão ajudar a desvendar antigo Reino do Congo

Um grupo de arqueólogos da Universidade de Coimbra (UC) deverá partir em breve para Angola para resgatar testemunhos do antigo Reino do Congo no âmbito da candidatura de Mbanza Congo a património da humanidade pela Unesco. 


A deslocação da equipa para realizar uma campanha de escavações esteve agendada para julho passado, mas foi adiada, aguardando agora uma nova data para a partida, revelou à agência Lusa a sua responsável, Conceição Lopes, que presta assessoria ao Governo de Angola no domínio da arqueologia.

A cidade foi a capital do antigo Reino do Congo, no noroeste do Angola, abrangendo ainda territórios da RD Congo e de Cabinda, tendo sido um dos principais estados africanos pré-coloniais. A arqueóloga, professora na UC, fez parte de uma equipa internacional de peritos da UNESCO que em 2010 avaliou o potencial da candidatura. Das recomendações então produzidas realizou-se uma nova missão, em 2011, da qual também fizeram parte arqueólogos dos Camarões.

A deslocação desta equipa de arqueólogos enquadra-se já no âmbito de um protocolo celebrado entre o Instituto Nacional do Património Cultural de Angola e a Universidade de Coimbra, através do Instituto de Investigação Interdisciplinar (iii).

Conceição Lopes, que também dirige uma equipa de arqueólogos portugueses na Síria, classifica à agência Lusa de "muito importante" esta candidatura de Angola à UNESCO. "É muito importante até para que se possa promover a património da humanidade um outro tipo de património. Em África não há muito sítios que tenham a monumentalidade ou as condições para responder aos critérios da UNECO.

Patrimónios não são só as grandes catedrais ou as grandes paisagens cultuais", observou. Na sua perspetiva, "há outros contextos históricos e sociais que podem ser património da humanidade", como é a atual cidade angolana de Mbanza Congo.

"Até por ser a capital do Reino do Congo, de um reino tão mítico e tão importante muito antes da chegada dos portugueses", realçou, frisando que a cidade integra também a rota da escravatura para o Brasil, no período colonial.

 Para a arqueóloga, a importância desta candidatura advém também do facto de com ela se poder fazer "uma releitura da história" através da investigação a produzir. "Mais importante que o Reino do Congo após a chegada dos portugueses, é o Reino do Congo antes dos portugueses", sublinha, frisando que a expetativa é conseguir resgatar um pouco do que era o quotidiano antes da chegada de Diogo Cão, nos finais do século XV.

Com a chegada dos portugueses o rei do Congo converteu-se ao cristianismo, ao ponto de adotar o nome de Afonso I, e aí se iniciar a construção da primeira igreja cristã ao Sul do Sahara, e da qual hoje ainda existem vestígios. "É muito interessante o que ainda resta.

O plano da igreja é colonial, mas as técnicas de construção são locais, africanas. Há indícios de uma certa manutenção da resistência, das técnicas, e há-de ter-se mantido a comida, as coisas do quotidiano, que os textos não relatam".

Na sua perspetiva, a arqueologia pode resgatar muito do que foi o quotidiano daqueles tempos, pois "os textos relatarão o que os portugueses fizerem de maravilhoso, do que não fizeram, mas não falam daquelas coisas que se mantêm, das outras formas de vida que também existem".

 Refere que da antiga cidade de S. Salvador do Congo, designação colonial da atual Mbanza Congo, além da igreja ainda existem o cemitério dos reis do Congo, duas árvores sagradas onde os monarcas faziam os rituais de bem aventuranças do reino e o sítio dos rituais funerários de fumigação e mumificação.

 "Existem umas estruturas em parte escavadas nos anos 50 por Fernando Batalha, que não sabemos a que pertencem, e que terão de ser reescavadas. Porventura pertencem ao grande palácio e à muralha que circundava a cidade à chegada dos portugueses", observou Conceição Lopes.

Fonte: RTP 
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