FOTO. WIKIPÉDIA (gliptodonte) |
É um dos mistérios mais intrigantes da paleontologia e irá ser o objeto de um debate promovido na Universidade de Oxford, onde será discutido se foi a mudança climática ou os caçadores humanos que mataram a megafauna que existiu no nosso planeta.
"Criaturas como a “Megatherium”, a preguiça gigante e o gliptodonte, uma espécie de tatu maior do que o antigo carocha da Volkswagen , desapareceram da América do Sul há cerca de 10.000 anos , quando houve grandes mudanças no clima - que alguns cientistas acreditam que desencadeou estas extinções", disse Yadvinder Malhi, professor de ciência dos ecossistemas em Oxford, um dos organizadores da conferencia, Megafauna and Ecosystem Function.
"No entanto, também por esse período as tribos de humanos modernos estavam em movimentação pelos territórios onde viviam essas criaturas, e muitos de nós acreditam que é muita coincidência que isso tenha acontecido exatamente quando esses animais desapareceram. Estas criaturas tinha sofrido milhões de anos de mudanças climáticas antes do homem aparecer, mas foi precisamente quando este surgiu que o fenómeno aconteceu”.
"Pensamos em África e sudeste da Ásia com os seus leões, elefantes e rinocerontes como a principal casa de animais de grande porte nos dias de hoje, mas até há muito pouco tempo da história do nosso planeta, enormes criaturas prosperavam maravilhosamente bem na Austrália, América do Norte e América do Sul ", disse o professor Adrian Lister, do Museu de História Natural, em Londres. "A questão é a seguinte: porque desapareceram estes animais do novo mundo, mas sobreviveram no velho mundo?
"Alguns acreditam que é porque os grandes animais da África e sudeste da Ásia aprenderam a tornar-se cautelosos com os seres humanos e decidiram evitá-los a todo o custo. No entanto, eu também acho que as mudanças climáticas operadas quer nas Américas, quer na Austrália poderão ter contribuído para alterar e enfraquecer os habitats e os nichos ecológicos onde estes animais se moviam, e só depois de enfraquecidos é que se tornaram presas fáceis para os seres humanos que acabaram por os dizimar”, diz Adrian Lister.
A humanidade ainda está a pagar o preço pelo desaparecimento da megafauna das Américas e Austrália, conforme será explicado na a conferência de Oxford. "Há agora uma grande quantidade de evidências que sugerem que os grandes herbívoros como os “gomphotheres”, uma espécie da família dos elefantes, que foram extintos na América do Sul por volta de há 9.000 anos, desempenharam um papel fundamental em áreas como a Amazónia. Eles comiam frutas da floresta, incluindo abacate, e os seus excrementos acabavam por fertilizar e polarizar a vegetação noutras áreas. Isso já não acontece e lugares como a Amazónia estão a ser atualmente afetados ", disse Yadvinder Malhi.
Outro exemplo é fornecido pelo diprotodonte, que alguns cientistas defendem que foram os principais responsáveis por manter os níveis de biomassa muito baixos. Quando o diprotodonte desapareceu, plantas e arbustos cresceram sem impedimentos. O resultado foi as grandes queimadas e incêndios florestais que se tornaram um grave problema logo após, por exemplo, o vombate gigante ter desaparecido da Austrália.
Da mesma forma, criaturas como o mamute tiveram um papel fundamental na manutenção de pastagens saudáveis em latitudes elevadas, como a Sibéria. "Tornou-se claro que a compreensão que temos da ecologia contemporânea é incompleta porque não tem em conta que os ecossistemas foram povoados por animais gigantes como o mamute ou o diprotodonte", diz Yadvinder Malhi."Estes não são sistemas naturais nos dias de hoje porque estão em falta componentes-chave que a maioria das plantas havia adotado", sublinha.
Seja como for, e apesar das grande dificuldades e escolhos que poderão encontrar alguns projetos mais arrojados, é principio comummente partilhado por todos os investigadores que as questões ambientais e paleoambientais são de crucial importância para o equilíbrio saudável do planeta em que vivemos e que daremos de herança aos nossos vindouros. Na verdade, a verdadeira lição a tirar desta conferência será a de que destino da megafauna que ainda existe é de crucial importância para o nosso planeta. O ecologista da Universidade de Oxford, Emily Read, um dos organizador da conferência, sublinhou que "precisamos de proteger a megafauna que temos. Mais de 20 mil elefantes foram mortos em 2012 para extrair o marfim. Os seus chifres são negociados, em mercados ilegais, com cotações superiores às do ouro. Não é apenas o valor cultural destes animais de grande porte que precisa de ser repensado, mas também o facto de que se os exterminarmos se afetará irremediavelmente todo o ecossistema ".
Este artigo foi escrito com base em matéria publicada pelo jornal inglês The Guardian