Património quinhentista esquecido e abandonado na Póvoa de Santa Iria

Uma capela, uma lapa e um oratório subsistem no meio de uma urbanização que já foi uma quinta. Mas o abandono está a ameaçar a sua preservação.

FOTO: JORNAL PÚBLICO
Há quase 20 anos que se fala na necessidade de tomar medidas para recuperar e preservar um importante conjunto de património religioso com origens no século XVI, situado no interior da Quinta Municipal da Piedade (Póvoa de Santa Iria), classificada como imóvel de interesse público. A capela dedicada à Senhora da Piedade, a Lapa do Senhor Morto e o Oratório de S. Jerónimo estão muito degradados e já foram alvo de diversos roubos. Para evitar danos maiores foram dali retiradas esculturas, entretanto reabilitadas, mas que nunca voltaram aos locais de origem porque as prometidas obras de recuperação nunca avançaram.

Os belíssimos painéis de azulejos da lapa e da capela estão, também, muito danificados e na zona envolvente há lixos diversos e erva abundante Os belíssimos painéis de azulejos da lapa e da capela estão, também, muito danificados e na zona envolvente há lixos diversos e erva abundante. A oposição local critica a falta de iniciativa da Câmara de Vila Franca de Xira (proprietária da quinta desde 1979) e a Associação Dom Martinho, dedicada à defesa do património histórico da Póvoa de Santa Iria, considera “incompreensível” tanta demora no arranque das obras de conservação deste património, especialmente numa das cidades mais densamente povoadas do país, onde os vestígios históricos não abundam.

O exectivo camarário de Vila Franca de Xira alega, por seu turno, que os projectos de recuperação que desenvolveu desde 2007 tiveram que passar por algumas alterações por exigência do Igespar (Instituto de Gestão do Património Arquitectónico), mas garante que está a fazer tudo para que as obras arranquem ainda este ano.

"É uma coisa incompreensível. Primeiro era o problema do Ippar, depois do Igespar, agora parece que já tem outro nome. Não sei se é do Igespar ou se é da Câmara, acho é que tem que ser resolvido" “É uma coisa que não se percebe, há mais de 7/8 anos que levantamos o problema. Não percebo por que é que não se resolve. É uma coisa incompreensível. Primeiro era o problema do Ippar, depois do Igespar, agora parece que já tem outro nome. Não sei se é do Igespar ou se é da Câmara, acho é que tem que ser resolvido”, sustenta António Nabais, dirigente da Associação D. Martinho e eleito da CDU na Assembleia Municipal de Vila Franca de Xira. “Independentemente de não ser crente, choca-me ver que ainda há pessoas que vão pôr velas acesas na Lapa do Senhor Morto, mas não está lá nada, porque as imagens estão arrumadas a um canto da Igreja. É uma coisa que deve ser caso único no País, se há dinheiro, não percebo por que é que não se faz”, lamenta.

António Nabais sublinha que a Associação D. Martinho tem tentado, por todas as vias, sensibilizar quem de direito para a necessidade de recuperar este património construído na época em que a quinta integrava o Morgadio da Póvoa, propriedade de cariz agrícola onde predominava o olival, situada a cerca de 15 quilómetros de Lisboa. “Temos insistido com a Câmara para ver se resolvem este problema. Estavam ali colocadas três ou quatro imagens em pedra de Ançã, que estão recuperadas e, agora, não se colocam as imagens, porque o resto não foi recuperado. É uma coisa que não se entende. Um património histórico com esta importância deveria ser mais cuidado”, acrescenta.


A Quinta Municipal da Piedade fica, actualmente, no meio da maior urbanização da cidade, a urbanização da Quinta da Piedade, onde vivem perto de 20 mil pessoas. A propriedade chegou à posse da Câmara em 1979, no âmbito do licenciamento da primeira das três fases da urbanização. No palácio do século XVII e no espaço envolvente (parcialmente rodeado por muralhas) funcionam uma biblioteca, a Universidade Sénior do Concelho de Vila Franca, uma galeria de exposições e um viveiro de animais e plantas, entre outras actividades, mas a capela, a lapa e o oratório, situados na parte sul da quinta, estão muito degradados.

Também o vereador Paulo Rodrigues (CDU) lamenta o impasse em que a questão se mantém há anos. “É um património que está ao deus-dará. Já esteve entaipado, já serviu de albergue (usado por sem-abrigo), há que dar um salto qualitativo e fazer as obras de que se fala há tanto tempo”, defende.

Artigo de Jorge Talixa - Público
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