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É o resultado do trabalho desenvolvido pelas equipas lideradas pelo arqueólogo Cláudio Torres, fundador e director do Campo Arqueológico de Mértola (CAM) e Prémio Pessoa em 1991, e das opções dos sucessivos executivos municipais que se materializa hoje na instalação de 12 núcleos museológicos. Tem um centro universitário onde se desenvolve um trabalho de parceria com as universidades de Coimbra, Faro e Évora, e que faz deslocar até ao Campo Arqueológico de Mértola investigadores e especialistas para adquirirem conhecimentos ou consultarem a sua biblioteca com 70 mil volumes, a maior do país sobre a cultura islâmica.
A par do turismo cultural que leva a Mértola visitantes com exigências específicas, casais, pequenos grupos de pessoas “que sabem ao que vêm”, refere o arqueólogo, chegam os entusiastas do turismo ornitológico, vindos sobretudo do norte da Europa e até da América para observar a águia-imperial-ibérica, abetardas, grifos, sisões, melros-azuis ou peneireiros-das-torres, a que se juntam os praticantes da canoagem e do remo e fervorosos adeptos da caça cinegética. Este conjunto de valências turísticas traduz-se na visita de 25 a 30 mil pessoas por ano, oriundos de Portugal (cerca de 65%) mas também de Itália, Bélgica, Suíça, Brasil, Dinamarca, Canadá, E.U.A, e países do Leste da Europa.
“Vi famílias numerosas, muita miudagem” e o quotidiano de um bairro chamado “favela” com “gente amontoada nas casas muito degradadas, fome, mas ao mesmo tempo muito calor humano”, recorda o arqueólogo que para ali foi depois de aceitar o desafio do seu aluno, Serrão Martins, que acabara de ser eleito presidente da Câmara. Naquele ano, a população residente superava os 13 mil habitantes. Em 2013 pouco passava dos 6 mil, colocando Mértola como um dos concelhos do Alentejo em que a densidade populacional é das mais baixas.
A palavra turista não fazia parte do linguajar local. “Só ia a Mértola quem tinha de ir”, descreve Torres, mas a localidade já era um “sítio mítico” diz, frisando que “não foi por acaso" que foi até à vila alentejana erguida num morro junto ao Guadiana com um porto fluvial a 70 quilómetros do mar e um passado histórico que se revelaria importante.
Entretanto, toma corpo um paradoxo que acabou por se revelar comum a todo o interior alentejano. “O jovem de Mértola quer ir embora da sua terra formatado por um sistema de ensino que promove a cultura urbana e estigmatiza o mundo rural”, diz Cláudio Torres. Apesar de ali ter sido instalado um pólo da escola de formação profissional Bento de Jesus Caraça, onde os formandos adquirem conhecimentos inclusive em turismo e património, o certo é que “acabam por ir embora”, refere, fragilizando o tecido social e económico do concelho e obrigando o CAM a ir “buscar jovens fora da terra”. Premonitório, admite que dentro de 30 a 40 anos “haverá em Mértola outro tipo de população”. Há investigadores já com filhos nascidos na vila museu.
O relatório elaborado pela Câmara de Mértola em 2012 com dados estatísticos relativos aos visitantes e à evolução das estruturas de apoio aos viajantes destaca a importância do património e o incentivo ao turismo, concluindo que estas valências “são o principal elemento agregador e potenciador do desenvolvimento local”, mesmo em tempo de crise económica.
Ler na fonte: Jornla Público »»