Frágeis estilhaços de antigos vasos de faiança portuguesa. A pequena roda de ferro de um secular brinquedo. Ferraduras de cavalos e asnos e um estribo de metal enferrujado. Fragmentos de sopeiras, de pratos, de urinóis, de pias e de objetos em cerâmica. Raros trilhos de bondes. Lascas de louça e porcelana inglesa. Ossos de carnes comidas há cem anos. Moedas dos tempos do Império. Rotos frascos de perfumes. Telhas partidas. Conchas.
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Esses são alguns dos objetos identificados que brotaram de um enorme subsolo urbano por onde passam diariamente milhares de pessoas e são agora apresentados no livro A história sob a terra: achados arqueológicos na Baixada Santista. O coquetel de lançamento será no dia 13 de junho, às 20 horas na Pinacoteca Benedicto Calixto, que fica na Avenida Bartolomeu de Gusmão, 15, Boqueirão, Santos. A entrada é gratuita. Assinada por Fábio Malavoglia, Maria Lúcia Montes e Zaida Siqueira, a obra com 208 páginas e cerca de 300 imagens será distribuída gratuitamente para instituições educacionais e culturais na região.
A coleta desta "história submersa" revela vestígios de uma ocupação remota ocorreu quando a Comgás (Companhia de Gás de São Paulo), em vista da implantação do sistema de dutos para a distribuição de gás natural, entre 2007 e 2009, contratou a Scientia – Consultoria Científica para efetuar o monitoramento arqueológico.
"É o relato da descoberta de uma cidade invisível sob a cidade, com base em trabalhos científicos de arqueologia", destaca Zaida Siqueira, idealizadora do projeto, que teve o patrocínio da Comgás. Ela acredita que o tema tem todos ingredientes para seduzir estudantes, pesquisadores e população em geral. "Vai agradar até mesmo aos turistas que se interessem pela história de Santos".
Publicado pela DZ Produções Artísticas, o texto foca bastante os achados arqueológicos encontrados na abertura do gasoduto mas não se limita a eles. Divididos em 12 capítulos, são relatadas também as descobertas arqueológicas passadas – como o frontão com a mais antiga inscrição católica do Brasil, em São Vicente, descoberto no século XIX, ou a lápide de Frei Gaspar da Madre de Deus, primeiro historiador santista, também resgatada no século XIX.
Achados de outros arqueólogos também são mencionados, como a descoberta do mais antigo muro de alvenaria do país, no Museu Casa Martim Afonso , no centro de São Vicente, ou os restos do segundo hospital da Misericórdia, na Praça Mauá, ou o canal subterrâneo do Rio São Bento, no Valongo, encontrado por um marceneiro, e explorado por arqueólogos do Nupec (Núcleo de Pesquisa e Estudo em Chondrichthyes) e pelo historiador Waldir Rueda Martins, já falecido.
O livro tem uma linguagem bem acessível e está amplamente ilustrado para o público em geral e especialmente o de escolas. Segundo Fábio Mavoglia, responsável pelo texto, um dos grandes diferenciais do livro é a narrativa. Além de seu lado histórico ou documental, existe o lado “bem contado”, isto é, literário. "Trata-se de uma peça onde o conteúdo informativo não abafou a forma literária, porque houve uma união, em que esta serviu àquele. Isso é raro hoje", diz Malavoglia.
O projeto foi realizado por meio da lei de Incentivo Fiscal da Secretaria do Estado de Cultura através do ProAc, patrocínio Comgás e conta com o apoio do Governo de São Paulo.
Fonte:
Diário do Litoral