Tecnologias de ponta abrem novas possibilidades para exposições arqueológicas

Na exposição itinerante ‘Mãos no Barro da Cidade’ a impressão 3D e a realidade aumentada permitem imergir em uma olaria do século XVIII encontrada sob a cidade de São Paulo.

Foto: Zanettini
Já imaginou visitar uma exposição de peças arqueológicas centenárias e poder pegar os itens na mão, ao invés de apenas observá-los em vitrines? Até bem pouco tempo, a perspectiva era de fato apenas imaginação – por se tratarem de objetos muito frágeis, os visitantes são expressamente proibidos de manuseá-los. De acordo com a legislação, a quebra de algum achado arqueológico se configura como crime contra o patrimônio nacional. Mas avanços significativos na área de imageamento e impressão 3D nos últimos anos têm proporcionado a criação de réplicas de resina quase perfeitas, disponíveis ao toque sem qualquer impedimento.

“Somos arqueólogos e falamos do mundo através das coisas, e nada melhor do que poder pegar os documentos na mão”, diz Paulo Zanettini, proprietário da empresa de arqueologia que organiza uma exposição pioneira no Brasil, com recursos de impressão 3D e realidade aumentada.

Para o professor de artes visuais Paulo Gonçalves, que conferiu a mostra itinerante “Mãos no Barro da Cidade” na última segunda-feira (29/9), a novidade é atraente para os mais jovens. “Meus alunos iam curtir usar a tecnologia em qualquer exposição, é um atrativo quando tem a parte de coisas digitais para eles fuçarem”. Já o arquiteto Julian Seifert ressalta o potencial para reflexões sobre a cidade. “A relação de tecnologia e arqueologia vem mais como uma relação crítica sobre o espaço a nossa volta”, diz.

Ao visitar a mostra itinerante “Mãos no Barro da Cidade”, que atualmente está na estação Faria Lima do metrô de São Paulo, em Pinheiros, é possível manipular cópias praticamente idênticas de quatro objetos de cerâmica de mais de 300 anos, entre eles a fôrma de bolo mais antiga que se tem registro no país. Através de um aplicativo gratuito para smartphones e tablets, pode-se navegar pelo sítio arqueológico de onde foram retirados.

A OLARIA As peças vieram daquele mesmo bairro, mais especificamente da região do cruzamento da avenida Eusébio Matoso com a Marginal Pinheiros – uma área de tráfego intenso e grande especulação imobiliária. Num quarteirão próximo dali, entre as ruas Butantã, Pais Leme e Amaro Cavalheiro, jazia soterrada uma olaria que operava no século XVIII, aproveitando a abundância de barro da região da várzea do rio Pinheiros para produzir cerâmicas diversas.

O sítio arqueológico Pinheiros 2 foi descoberto em 2010 pela empresa Zanettini Arqueologia no terreno de um empreendimento imobiliário da construtora Cyrela, de onde foram resgatados 50 mil fragmentos. Oito fornos também foram identificados, que devem ter produzido pelo menos 10 mil objetos de cerâmica ao longo de 100 anos. No geral as peças eram de boa qualidade, com cerâmica branca e regular. Apesar do formato europeu, algumas das leiteiras, frigideiras e potes apresentavam padrões de decoração indígenas e africanos, o que indica que a mão de obra era diversificada – se era escrava ou não, ainda não se sabe.

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